Afinal, o que é diplomacia? - Parte I
- Blenda Lara
- 6 de jan. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 5 de dez. de 2022

O concurso de admissão à carreira diplomática, célebre por ser um dos mais difíceis do país, propôs como tema da dissertação da prova de Português de 2015 que o candidato dissesse em que consistiria ser um diplomata brasileiro. E você, caro leitor, sabe?
Se é afeito a jogos de tabuleiro, algo comum entre os internacionalistas, deve ter ouvido falar do jogo Diplomacy, produzido no Brasil pela Grow sob o nome de Diplomacia.
Foi lançado nos Estados Unidos no ano de 1959, sendo o pioneiro entre os jogos que envolvem negociação, blefe e ação simultânea. Não se trata de um jogo de sorte, mas de dinâmica, passando-se no teatro de ações políticas que antecederam a I Guerra Mundial.
As fases do jogo envolvem negociação, movimentação e conquista de território. Todavia, os jogadores passam mais tempo formando estratégias benéficas para si ou traindo alianças que propriamente acionando o movimento do tabuleiro. Cada jogador controla as forças armadas de uma ou mais potências europeias do período pré-guerra. Não se trata de jogo de azar, dado que não tem elementos aleatórios como jogos de dados. Dizem as más línguas que o jogo continua sendo uma grande fonte de destruição de amizades.

Allan B. Calhamer
A ideia do jogo surgiu do estudo de Allan B. Calhamer, em Harvard, sobre a história europeia do século XIX. Houve participação de outros na criação, dentre os quais merece destaque Sidney B. Fay, historiador norte-americano. Consta como inspiração para o jogo o xadrez (limitação de espaços e peças) e o jogo de copas, no qual ele observou que os jogadores em vantagem eram os que se uniam ao líder. Depois do xadrez, Diplomacia foi o segundo jogo a ser jogado por via postal e, a partir de 1980, foi possível também ter a sua versão por e-mail, que ainda é jogada por alguns praticantes.
O objetivo do jogo é mover suas unidades iniciais e derrotar as unidades dos outros jogadores para ganhar posse de determinados centros de abastecimento. Após cada rodada de negociações, cada jogador pode emitir ordens de ataque e de suporte, que são executadas durante a fase de movimento. O jogador que receber maior número de aliados durante a ordem de ataque, vence o território e segue avançando até prevalecer no jogo.
Analisando esse jogo, temos o básico no que se refere à diplomacia: a arte da negociação, da persuasão e da formação das alianças corretas. Essa característica era especialmente importante em tempos mais belicosos e, especialmente, em um cenário como o que antecede a I Guerra. São diversos fatores que influenciam esse interesse de conquista, os resquícios de uma política imperialista é um de seus exemplos. Igualmente, o sentimento de desconfiança entre as nações e a falta de publicidade e transparência nos tratados e processos negociais faziam com que houvesse a possibilidade de alianças secretas e da quebra destas. Aliás, o próprio Kissinger aponta em seu livro A Diplomacia que essa foi uma das causas da Ia Guerra Mundial.
Esse jogo descreve uma ordem política realista em que, de certa forma, a arte diplomática restava ancorada no aparato militar e bem próxima a ele. Com a modificação e diversificação da sociedade internacional outros atributos passam a surgir e ser necessários para o exercício da profissão.
Deixemos essa conversa para nosso próximo post.
* Blenda Lara Fonseca do Nascimento
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