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Afinal, o que é diplomacia? - Parte 2

  • Foto do escritor: Blenda Lara
    Blenda Lara
  • 20 de jan. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 1 de fev. de 2022

"O diplomata é uma pessoa que primeiro pensa duas vezes, mas que no fim não diz nada." Churchill

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O Congresso de Viena por Jean-Baptiste Isabey - 1819


A arte deve ser definida a partir do artista e definir um diplomata não é tarefa fácil. Conforme conversamos, por muito a arte da diplomacia esteve confundida com a arte da guerra, seja para perfeitamente trilhá-la, evitá-la ou encerrá-la. Com o aumento da complexidade do Estado e a separação de funções entre os ministérios, as relações exteriores assumem um campo próprio e as pessoas escolhidas para o cargo, guardam características em comum.

Em primeiro lugar, o diplomata precisa possuir uma boa rede de contatos. Segundo Madeleine Albright, as relações humanas fazem grande diferença na profissão. O diplomata deve conhecer da realidade do local em que se encontra e não há forma melhor de fazê-lo a partir da construção de redes de contatos confiáveis. Essas redes lhe permitem ter mais informações e para consegui-las, deve cativar.

Em segundo, precisa empreender todos os esforços necessários, tendo em vista seus objetivos. É célebre a frase de Karl Kraus, "a diplomacia é a política vestida de etiqueta". E essa etiqueta é a cobertura necessária para que se alcancem os objetivos delimitados pela política de Estado.

Em terceiro lugar, precisa o diplomata ter sutileza no uso de sua linguagem. Nos dizeres de Churchill, a diplomacia é a arte de mandar alguém ao inferno, de uma forma que a pessoa lhe pergunte pelas direções. As palavras importam e importam muito para o diplomata. Além do equilíbrio que cerca a sua escolha de linguagem. Na diplomacia as palavras e o tom de seu uso importam. Por esse motivo, um diplomata tem de saber lidar com as sensibilidades que a linguagem pode implicar. A imprecisão de termos quando se está diante de questões delicadas pode gerar conflitos ou até mesmo impedir o alcance de acordos e consensos.

Em quarto lugar, precisa saber defender a sua posição com suavidade ou contundência. Não confunda o adjetivo diplomático com a profissão diplomata. O adjetivo refere-se a alguém que tem tato e evita conflitos e que, por vezes, é dissimulado e consegue seduzir por palavras. O diplomata é uma profissão na qual se procura funcionar com cortesia, todavia, se necessário, um diplomata pode e deve ser tão firme quanto persuasivo.

Em quinto ponto, precisa um diplomata saber um pouco de tudo. Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord, diplomata francês, disse que quando um diplomata diz "sim" significa "talvez", quando ele diz "talvez", significa "não"; e um diplomata que diz "não", não é um diplomata. Isso porque mesmo que ele não seja um político, há um muito de política em seu trabalho. Igualmente não é um advogado, nem um economista, necessariamente, mas precisa performar estas funções e delas conhecer. Não é um jornalista, mas por certo necessita ser um comunicador. Igualmente não é um psicólogo, mas mais que em muitas profissões, um diplomata precisa saber ler pessoas. Ao mesclar todos estes ingredientes, o resultado é um bom diplomata: o generalista capaz de conjugar todas essas qualidades em uma única profissão.

Em sexto, deve o diplomata sentir-e confortável mesmo estando fora de sua zona de conforto. É a pessoa que consegue encontrar conforto no desconforto. Embora pareça uma vida glamurosa, o trabalho diplomático carrega uma vida de falta de previsibilidade e que arrasta a sua família junto. A cada dois ou três anos tem de mudar de cidade e pode ser que esta seja no extremo oposto do mundo. Em troca, haverá crescimento pessoal e cultural e ausência de uma rotina.

Em sétimo lugar, tem a pessoa de ter vocação para o serviço público, porque ela não será mais que um servidor. Ele trabalha defendendo o interesse de seu país e de seus nacionais no exterior, além de apoiar a governança internacional, atuando, muitas vezes, em cooperação com outros Estados.

Em oitavo lugar, ser um equilibrista. Neste ponto, vale lembrar a lição de Lord Palmerston, "a Inglaterra não tem amigos permanentes, nem inimigos permanentes. A Inglaterra tem interesses permanentes". E o diplomata irá trabalhar no sentido desse interesse fixado. "Um diplomata é um analista da realidade e assim participa das decisões governamentais e, em razão disto, está sujeito a influências externas. A fim de evitá-las, deve guardar certo ceticismo e preservar um espírito crítico. Ele deve caminhar se equilibrando entre as pressões com critério e lealdade aos interesses originais estatais que defende.

Em nono lugar, ter paixão por aprender idiomas e até mesmo facilidade. Em geral, espera-se que um diplomata fale em torno de três idiomas (o inglês, o francês e o espanhol) e outros além desses que estejam relacionados aos postos que tenham interesse ou já hajam servido.

Em décimo lugar, ser uma pessoa dotada de recursos criativos. Como bom generalista, um diplomata pode estar diante de muitos desafios em sua carreira, desde crises humanitárias, atentados terroristas a incidentes envolvendo cidadãos. Além disso, ele também está sujeito a desafios normais que qualquer carreira tem como um chefe abusivo. Por esta razão requer-se que seja uma pessoa com criatividade e talento para encontrar respostas coerentes a problemas totalmente imprevisíveis.

Em último lugar, um diplomata precisa saber escutar, ter empatia e ser flexível, seja para lidar com as pessoas, seja para conhecer o local. Por isso tem de ter uma mente aberta, ler muito e escutar o ambiente em que se encontra. Só assim ele vai ser uma ponte entre a brecha cultural de seu país de origem e o de exercício. O diplomata é aquele que anda muito, lê muito, vê muito e sabe muito, utilizando-se dos dizeres de Cervantes.

Observou se você tem jeito? Já possui tais habilidades ou buscou a forma de desenvolvê-las? Essas informações tiveram por fonte site do ministério de assuntos exteriores da Espanha. É importante olhar para a profissão com bastante realismo para além do glamour que sempre cercou a carreira.

Por fim, o texto termina com citação do britânico Harold Nicolson: “These, then, are the qualities of my ideal diplomatist. Truth, accuracy, calm, patience, good temper, modesty and loyalty. They are also the qualities of an ideal diplomacy. But, the reader may object, you have forgotten intelligence, knowledge, discernment, prudence, hospitality, charm, industry, courage and even tact. I have not forgotten them. I have taken them for granted.” (Essas, pois, são as qualidades do meu diplomata ideal. Verdade, acurácia, calma, paciência, bom temperamento, modéstia e lealdade. São também as qualidades de uma diplomacia ideal. Mas, o leitor talvez questione, você se esqueceu da inteligência, conhecimento, discernimento, prudência, hospitalidade, charme, empenho, coragem e mesmo tato. Eu não as esqueci. Eu as tomei como já existentes.)

Esse artigo continua... um abraço do tamanho do mundo!

 
 
 

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© 2020 Revista Brasileira de Análise Internacional ISSN 2965-1727

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