Afinal, o que é diplomacia? Parte III: o Barão do Rio Branco e seu exemplo para os tempos atuais
- Blenda Lara
- 25 de nov. de 2022
- 3 min de leitura

Quando nos idos da minha infância rascunhava as notas de mil cruzeiros, não imaginava a importância que aquela figura ali representada teria na minha vida. Sim, aquela nota, o famoso barão dos bordões: "me dá um barão" ou "lá vai o barão". Uma nota que não resistiu em valor aos diversos planos de econômicos dos anos 80/90 e à nossa inflação galopante que apenas teve fim com o Plano Real. Os mais jovens nem vão saber o que é isso (inflação?). O Barão já tinha virado dinheiro em outras oportunidades e hoje consta na moeda de 50 centavos, acompanhado do seu maior feito: a definição das fronteiras do Brasil.
Aliás, em tempos de guerra ainda por disputas de território e influência, o Barão tem muito a ensinar sobre como se tornar hegemônico sem derramar uma gota de sangue. Bem, mas quem era esse garboso senhor de bigode e de quem ainda se fala depois de mais de cem anos de sua morte?
Filho de grande homem de Estado do império, o Visconde do Rio Branco, José Maria da Silva Paranhos, o Barão do Rio Branco, foi o único de oito filhos que se notabilizou na vida pública como o pai. Formado em Direito, Geografia e História, acabou trabalhando como como professor de História e Geografia no Colégio Pedro II, enquanto era promotor de justiça em Nova Friburgo. Em 1869 atuou como Secretário na Missão Especial ao Paraguai e à Argentina, durante a Guerra do Paraguai. Foi esse o primeiro contato com os afazeres internacionais.
A vida diplomática e internacional veio mais tarde e com certa ajuda do pai famoso. Em 1876 é nomeado como cônsul-geral do Brasil em Liverpool (local de passagem para a maioria dos produtos brasileiros que eram exportados), cargo este que ocupou até 1893. Como naquela época não havia concurso público para diplomata, esses profissionais eram escolhidos entre os filhos da elite.
Exercia suas funções em Liverpool, mas instalou a família em Paris. Na vida pessoal manteve um relacionamento escandaloso para a época. Teve um tórrido relacionamento com uma atriz belga, Marie Stevens. Desse relacionamento veio um casamento para o qual a família e a sociedade torceram o nariz. Todavia, o casal teve cinco filhos.
Enquanto esteve na Europa produziu diversas obras sobre a história do Brasil. Ainda foi delegado da Exposição Internacional de São Petersburgo de 1884 e, em 1891, foi nomeado superintendente-geral na Europa da emigração para o Brasil, cargo que exerceu até 1893. Nessa data, foi nomeado chefe da missão encarregada de defender os direitos do Brasil no território de missões, porção reivindicada pela Argentina. A questão foi solucionada por meio de arbitragem com ganho de causa para o Brasil.
Nesse ponto foi demonstrada a sua vocação inata. Em 1898, resolveu outro conflito com a França, referente ao território do Amapá. Nova vitória na arbitragem em 1900.
Depois desses êxitos, foi nomeado para exercer missão em Berlim em 1900. Dois anos depois, retorna ao Brasil para assumir a pasta de Relações Exteriores, a convite do Presidente Rodrigues Alves. Nesse período foram assinados outros acordos de definição de fronteira. Além disso, foi em 1903 que foi resolvida a chamada questão do Acre por meio do Tratado de Petrópolis.
Faleceu no cargo em 1912, sendo o brasileiro que por mais tempo exerceu a função, constituindo um marco dentro da diplomacia brasileira. De fato, o homem definiu o Brasil conforme conhecemos hoje sem derramar uma gota de sangue. Herói nacional, a sua morte impactou até mesmo nos festejos de Carnaval. O ano 1912 ficou conhecido como o ano em que o Brasil teve dois carnavais e o adiamento foi em respeito ao grande estadista.

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