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O Conceito de Humildade por Carl Sagan

  • Foto do escritor: Adriano Leonês
    Adriano Leonês
  • 10 de fev. de 2022
  • 4 min de leitura

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Humildade vem do latim humilitas, e é a virtude que consiste em conhecer as suas próprias limitações e fraquezas e agir de acordo com essa consciência. Refere-se à qualidade daqueles que não tentam se projetar sobre as outras pessoas, nem mostrar ser superior a elas. A Humildade é considerada pela maioria das pessoas como a virtude que dá o sentimento exato do nosso bom senso ao nos avaliarmos em relação às outras pessoas.

Em teoria, a humildade é tida como uma qualidade bastante positiva e benéfica, onde ninguém é pior ou melhor do que os outros, estando todos no mesmo nível de dignidade, de cordialidade, respeito, simplicidade e honestidade. A humildade é um sentimento de extrema importância, porque faz a pessoa reconhecer suas próprias limitações, com modéstia e ausência de orgulho.

O autor que vos escreve encontrou na astronomia respostas muito importantes sobre os valores. Nós, seres humanos, precisamos ter consciência de tudo que fazemos por nós mesmos, pelo próximo e pela sociedade pois estamos no coletivo e dependemos de imensa rede de suporte para estarmos vivos e conectados. Aqui segue o texto de Carl Sagan sobre o tema e o vídeo segue logo abaixo. Boa leitura!


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No século 18 ainda havia alguma esperança em relação ao nosso planeta de que, mesmo ele não sendo o centro do Universo, então que fosse o único mundo. Mas o telescópio de Galileu revelou que a Lua e os planetas tinham tanto direito a serem mundos quanto a Terra. Elas possuem montanhas, crateras, atmosferas, calotas polares, nuvens. Está correto, dizem alguns.... Mesmo que a Terra não esteja no centro do Universo, o Sol está. O Sol é o nosso Sol. Assim, a Terra está aproximadamente no centro do Universo. Entretanto, no século 19, a astronomia de observação deixou claro que o Sol é apenas uma estrela solitária em um grande conjunto de sóis com gravidade própria que juntas formam a nossa galáxia: a Via Láctea.

Bem, a nossa galáxia é a única galáxia. A Via Láctea é uma dentre bilhões, talvez centenas de bilhões de galáxias que não se sobressaem pela massa, brilho ou configuração e arranjo de suas estrelas. Mas ao menos nossa galáxia está no centro do Universo. Não! Está errado também. Não existe, na verdade, centro para a expansão ou ponto de origem do Big Bang, não no espaço tridimensional comum.

E mesmo que existam centenas de bilhões de galáxias com centenas de bilhões de estrelas cada, nenhuma outra estrela tem planetas. Hoje temos provas da existência de três planetas girando em torno de uma estrela muito densa; o pulsar B1257+12. Descobrimos ainda que mais da metade das estrelas com massa semelhante à do Sol. No início da vida eram circundadas por grandes discos de gás e poeira, matéria de que os planetas parecem se formar. Outros sistemas planetários talvez até mundos semelhantes a Terra, eles parecem agora um lugar-comum cósmico.

Então, nossa posição no espaço não demonstra nosso papel especial, mas nossa posição no tempo, sim! Estamos no Universo desde o Início. Recebemos responsabilidade especiais do Criador. Nós humanos, somos retardatários. Aparecemos no último instante do espaço cósmico. Haviam transcorrido 99,998% da história do Universo até o presente, quando nossa espécie entrou na cena. No vasto circuito de eras, não temos responsabilidades especiais por nosso planeta ou pela vida ou o que for, não estávamos presentes.

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Mas mesmo que nossa posição, nossa época, nosso movimento e nosso mundo não sejam únicos, talvez nós sejamos. Somos diferentes dos outros animais, fomos especialmente criados. O zelo particular do Criador do Universo é evidente em nós. Essa crença foi apaixonadamente defendida por razões religiosas e outras. Porém, na metade do século 19 Charles Darwin mostrou convincentemente que uma espécie pode evoluir para outra espécie mediante processos inteiramente naturais, que se reduzem a função impiedosa da natureza de salvar as hereditariedades que funcionam e rejeitar as que não funcionam.

"O homem na sua arrogância se considera uma grande obra digna da intervenção de uma divindade" - anotou Darwin em seu caderno de notas. "É mais humilde e penso, mais verdadeiro considerar que foi criado a partir de animais". E ainda que sejamos intimamente relacionados com alguns dos outros animais, somos diferentes - em grau e espécie - no que realmente importa: raciocínio, autoconsciência, manufatura de ferramentas, ética, altruísmo, religião, linguagem, nobreza e caráter.

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Os seres humanos, como todos os animais, têm características que os diferenciam, senão, como poderíamos distinguir uma espécie da outra? Os chimpanzés raciocinam, tem autoconsciência, fazem ferramentas, demonstram afeto, etc. Os chimpanzés e os seres humanos têm 99,6% de seus genes ativos em comum. OK! Talvez não sejamos grande coisa. Talvez tenhamos um parentesco humilhante com os macacos, mas pelo menos somos o que de melhor existe. À parte Deus e os anjos, somos os únicos seres inteligentes no Universo.

O fato básico é que ainda não descobrimos vida extraterrestre. Estamos nas primeiras fases de observação, a questão está em aberto. Se eu tivesse de formular considerações, diria que o Universo está repleto de seres muito mais inteligentes e muito mais avançados que nós. É claro que eu poderia estar errado pois essa conclusão, quando muito, fundamenta-se na possibilidade derivada do número de planetas, da ubiquidade de matéria orgânica, das imensas escalas de tempo disponíveis para a evolução e assim por diante.

Vida extraterrestre à parte, se as pretensões a centralidade se retiraram para baluartes impermeáveis à experimentação, a sequência de batalhas científicas contra o chauvinismo humano parece ter sido, em grande parte, vitoriosa. Os debates tendem decididamente para uma posição que, por mais dolorosa que seja, pode ser resumida em uma frase: Não nos foi dado papel principal no drama cósmico. É possível que esse papel tenha sido dado a outros. Talvez não. De todo modo, temos boas razões para sermos humildes.



 
 
 

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© 2020 Revista Brasileira de Análise Internacional ISSN 2965-1727

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